• União Brasil tem novo comando em eleição com racha, ameaças e suposto dossiê

    Após uma série de brigas internas, integrantes da União Brasil aprovaram nesta quinta-feira (29) a troca no comando do partido.

    Em convenção partidária, o novo diretório da legenda elegeu uma nova executiva, que tomará posse em junho, o que levará à substituição do atual presidente do partido, o deputado federal Luciano Bivar (PE). No lugar dele, entrará o atual vice-presidente, Antônio Rueda.

    Já o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, que hoje ocupa o cargo de secretário-geral da sigla, será o 1º vice-presidente.

    Bivar chegou a cancelar a convenção desta quinta, num ato unilateral, em tentativa de evitar sua substituição futura –o mandato dele vai até maio.

    Integrantes do diretório do partido, porém, argumentaram que o dirigente não poderia tomar essa decisão, já que a convenção estava homologada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e aprovaram um recurso contrário.

    “Temos mais de dois terços dos convencionais e dos membros da executiva atual. Bivar não tem poder de cancelar de ofício uma convenção convocada pela maioria”, disse à Folha o líder da União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA).

    O deputado faz parte da ala que queria substituir Bivar por Rueda. O futuro presidente tem amplo apoio no partido. Também defenderam a troca nomes de peso na legenda, como o líder da legenda no Senado, Davi Alcolumbre (AP) e os ministros Celso Sabino (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações).

    Bivar, por sua vez, chamou a convenção de ilegítima e clandestina e ameaçou questioná-la na Justiça.

    “A convenção está eivada de visões. Como ela está com esses vícios, o que se pediu para a boa lisura de uma convenção é que se programe-se e reúna-se a Executiva e se marque nova data. Fora disso, ela está suscetível à judicialização”, afirmou.

    “É estapafúrdio fazer isso. Essa convenção não existe. Qualquer coisa que estão fazendo ali é clandestino.”

    Bivar ainda disse que há pessoas que querem usar o partido para atrair negócios e que tem que ser comandado por um político, não “por uma banca de advogados”. Rueda é advogado.

    O deputado foi presidente do PSL por mais de 20 anos e conseguiu manter-se no comando da União Brasil, fruto da fusão do antigo partido com o DEM, ocorrida em 2021.

    Desde que foi criada, a União Brasil vive conflitos internos entre a ala do DEM e do PSL. A conflagração atingiu seu auge nesta semana, às vésperas da convenção.

    Nos últimos dias, a ala ligada a Rueda acusou Bivar de ter feito ameaças do futuro presidente da legenda, algo que o deputado nega.

    A decisão de antecipar a convenção do partido, que só ocorreria em maio, foi tomada após uma briga entre Neto e Bivar em agosto passado.

    Aquele mês representou o ápice das rusgas e foi desencadeada uma operação para tentar tirar Bivar da presidência.

    A gota d’água, dizem integrantes da sigla, foi uma discussão ocorrida Neto e Bivar.

    O motivo foram divergências sobre o diretório do Amazonas. Reunidos em Brasília, o presidente do partido apontou o dedo a Neto e proferiu, segundo relatos, uma série de ofensas.

    ACM Neto passou então a organizar uma resposta partidária ao caso. Pressionado, Bivar tem falado em se licenciar do cargo.

    No caso envolvendo o Amazonas, o deputado de Pernambuco baixou um ato monocrático convocando uma convenção em Manaus na tentativa de eleger nomes ligados a ele no estado. Representantes do partido foram à Justiça e conseguiram rever o ato.

    Ameaças e dossiê

    O advogado Antonio Rueda anunciou que venceu a eleição para presidência do União Brasil nesta quinta-feira. Ele concorreu contra o atual presidente da sigla, Luciano Bivar, após uma campanha marcada por ameaças e até um dossê. Segundo parlamentares, o placar foi de 30 a 0, o que indica que adversários de Rueda não participaram da escolha — no total, eram 40 votantes. O ex-prefeito de Salvador ACM Neto foi escolhido o primeiro vice-presidente da sigla.

    — Hoje é um dia de alegria para o União Brasil. Essa vitória da chapa é do partido inteiro. Esse projeto a partir de agora está mais fortalecido do que nunca — disse Rueda.

    Após o anúncio, Bivar afirmou que a eleição não teve valor legal.

    — A convenção foi anulada estaturiamente. Como a eleição foi viciada, teve uma série de problemas, ela não tem nenhum efeito prático, nem administrativo nem legal. Então, eu dizer que vou à Justiça por algo que não existe… Não tem nenhum efeito prático isso — disse Bivar ao GLOBO.

    A campanha foi marcada por ameaças e até um dossiê. Na quarta-feira, Bivar deu uma entrevista coletiva com envelope escrito “denúncias”, mas, durante o encontro, não apresentou provas do que teria contra o adversário. Ao seu lado, estavam poucos aliados, o que reforça o cenário de isolamento no partido.

    Pressionado, Bivar também falou que os advogados do partido estavam analisando a formação das chapas para saber se a eleição seria realizada.

    — As chapas ainda não foram examinadas em suas minúcias. Então, a gente não pode dizer ainda dessa situação, com relação a posicionamento do partido a respeito da legalidade das chapas — disse Bivar.

    De acordo com técnicos aliados de Rueda, um movimento de Bivar no sentido de barrar a eleição seria frustrado em “10 minutos”, com deliberação pela Executiva a favor da continuidade do processo.

    Durante a coletiva, Bivar chamou Rueda de “covarde” e trouxe sua versão sobre telefonema entre ambos ocorrido na segunda-feira. Também disse que o líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento (União-BA), apoiador de Rueda, poderia ter um concorrente interno nas eleições para a presidência da Câmara, que ocorrerão em fevereiro do ano que vem.

    — Denúncias (contra Rueda) têm aqui (no envelope). Certamente vou abrir uma investigação disso. Como as denúncias são graves, posso até levar ao Ministério Público. Mas não posso antecipar porque eu não sei se procede. Essas denúncias são de toda sorte, é incrível, de um partido que não pode estar na mão de quem quer fazer negócios — disse Bivar.

    Racha escancarado

    A disputa pelo comando ganhou novos contornos nesta semana e escancarou o racha na legenda criada há apenas dois anos, fruto da fusão entre DEM e PSL. Rueda tem apoio da maioria dos parlamentares e dirigentes da legenda e deve ter ACM Neto, ex-presidente do DEM, como vice. Bivar, por sua vez, passou a cobrar a fidelidade de aliados que eram filiados ao PSL para se manter no poder.

    Como mostrou o colunista Lauro Jardim, do GLOBO, a guerra de bastidores entre os dois chegou até mesmo a envolver uma suposta ameaça de morte. Em reunião na tarde de terça-feira, Elmar anunciou a cerca de 20 colegas que Bivar havia tentado intimidar Rueda, considerado favorito. O deputado disse ter ouvido a gravação de conversa entre os dois dirigentes da sigla na qual Bivar, segundo ele, repete diversas vezes que sabe onde Rueda morava, onde circula, além de citar a rotina de sua família.

    Bivar nega ter ameaçado a família de Rueda, mas reconhece que discutiu e proferiu xingamentos ao telefone. Também insinuou que a conversa poderia ter sido “picotada” e tirada do contexto para prejudicá-lo.

    — Eu sou um cara pacífico. Acho que a pior coisa é você ser sórdido e covarde. Não estou dizendo que ele (Rueda) seja. Mas há determinadas coisas na vida que você (não faz). Eu disse (na ligação) que aquelas propostas indecorosas que ele estava fazendo eu não aceitava. E que ia foder ele — disse Bivar, que não quis dizer quais seriam as propostas de Rueda — Propostas indecorosas eu não aceito. Tenho medo de que o nosso Parlamento seja usado por alguém que use de fisiologismo, para atacar o governo atual. Não quero — completou.

    À imprensa, Bivar também criticou Elmar.

    — O líder Elmar, tive uma reunião com ele na sexta-feira na casa do senador Ciro Nogueira, à tarde, em São Paulo. Conversamos tudo e em nenhum momento ouvi (sobre ameaça de morte). Não sei de que lado está o líder Elmar. Sei que ele é um candidato nosso à sucessão do (presidente da Câmara Arthur) Lira. Mas por esse comportamento dúbio nos deixa preocupados se o partido deve apoiá-lo ou não. Se isso acontecer (for confirmada a posição de Elmar), o União Brasil vai lançar outro candidato.

    Mais cedo, o atual presidente do União já havia negado ter feito qualquer ameaça e disse que Rueda “vive se escondendo”. Procurado, Rueda não quis se manifestar sobre a situação. O vice, porém, comunicou a aliados na terça-feira que iria à polícia registrar uma ocorrência contra o atual chefe da sigla.

    Antes de conceder a coletiva, Bivar fez uma ligação para Elmar com o objetivo de falar sobre toda a situação. Segundo interlocutores, ele estava furioso com o vazamento da suposta ameaça. (O Globo e Folha)

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