• Em carta, Roberto Jefferson fala em ‘traição’ e anuncia demissão de presidente do PTB

    Em prisão domiciliar, o presidente de honra do PTB, Roberto Jefferson, anunciou hoje a saída de Graciela Nienov da presidência nacional da sigla. “Sem qualquer condição moral ou política, ela me pediu demissão, eu aceitei”, disse o ex-deputado federal.

    Nienov assumiu o comando do partido em agosto do ano passado, depois de o ex-mensaleiro ter tido prisão determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Jefferson é alvo de inquérito sobre as chamadas milícias digitais, que apura a organização de atos com pautas antidemocráticas no país.

    O comunicado do ex-deputado vem após a divulgação de áudios vazados de um grupo de WhatsApp em que a agora ex-presidente da sigla afirmava ter marcado reunião com Moraes. “Graciela me desqualificou, me traiu e quis apagar o meu legado e as minhas lutas”, comentou Jefferson.

    O que diz Graciela em áudio


    Segundo integrantes do PTB ouvidos pelo UOL, Graciela Nienov teria se articulado com o ministro Alexandre de Moraes para manter a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson.

    “Em janeiro eu vou ter que ir lá almoçar com o Alexandre. Fiz esse compromisso. Paciência. Bora lá”, diz Nienov em troca de mensagens com interlocutores, num grupo secreto de WhatsApp.

    Uma integrante do PTB de Porto Alegre, no grupo identificada como Paula, então responde: “A única coisa que eu quero é o STF de costas para nós, fingindo que a gente não existe. Não dá para brincar quando o cara tem a caneta para te botar dentro de uma cela”.

    Em nota, a assessoria do STF negou que Nienov tenha encontrado o ministro. “É absolutamente falsa a notícia de que o Ministro Alexandre de Moraes tenha recebido em audiência, conversado pessoal ou telefonicamente com a ex-presidente do PTB, que nem ao menos conhece.”

    A reportagem do UOL tenta contato com Nienov, que excluiu seus perfis nas redes sociais após o anúncio de sua saída do comando da sigla.

    Impasse de Cristiane com Graciela


    No registro, em que Jefferson se identifica como um “preso político”, o ex-deputado também critica a filha Cristiane Brasil, ex-deputada federal. “Eu poderia esperar essas atitudes de Cristiane, mas de Graciela, nunca”, afirma Jefferson no documento, ao qual o UOL teve acesso.

    Cristiane Brasil anunciou em dezembro a desfiliação do PTB em meio a uma disputa interna com Graciela Nienov, que teria começado no fim de 2020.

    “Para deixar claro: não voltaria ao partido nem que o meu pai me pedisse perdão de joelhos”, disse Cristiane após as declarações de Jefferson.

    Desde outubro do ano passado, a ex-deputada tem afirmado que a então presidente da sigla estaria contribuindo para manter seu pai preso. Na esteira dos vazamentos dos áudios de Nienov, Cristiane Brasil tem intensificado os ataques a Graciela.

    “Usurpadora e invejosa. Uma semi-analfabeta que nunca foi nada além de panfleteira alçada à presidência do PTB sem ser líder. Tentou ser uma cópia malfeita de filha de Roberto Jefferson. Deu nessa merda aí. Política é pra profissionais”, disse Cristiane hoje.

    Leia a íntegra da carta de Roberto Jefferson

    “Não dei uma palavra contra a Graciela. Eu a defendi contra todos, até com você quando me chamava atenção em relação a ela eu brigava. Briguei contra todos, contra minha própria filha. Contra o [Luiz] Rondon [secretário do PTB], o [Antônio] Albuquerque [vice-presidente região Nordeste] e suas ameaças de morte. Tanto que ele procurou o Neskau para me ameaçar, e ele respondeu se for pessoalmente e de frente ele pagava para ver.

    Fiz dela minha continuação, mas ela se transformou numa ruptura. Nada dissemos contra ela, só falávamos a favor. O mal que está sendo dito na mídia são palavras dela e do grupo dela. Nayara [integrante do conselho de ética do PTB], Jefferson, [Rodrigo] Valadares [secretário do PTB] e Paula [integrante do PTB de Porto Alegre]. São diálogos deles num grupo secreto. As piores palavras saem dela, do Valadares e do Jefferson.

    Chamam meu grupo de 5a. coluna, falam em terminar com a seita robertista, que meu grupo aluga a legenda, que meu grupo quer destruir o PTB. Eu precisei ouvir 4 vezes as gravações do grupo secreto que eles formaram. Li várias vezes os tweets que eles escreveram. Minha cabeça se recusava a aceitar. Me abalou profundamente. Da Cristiane eu poderia esperar essas atitudes, mas da Graciela que eu gostava como filha, nunca.

    Repito, a crise não foi forjada por nós, mas pelas palavras de Grupo secreto da Graciela, publicadas pela Nayara que brigou com o grupo. A mim abalou. Ouvi várias vezes a zombaria feita contra mim e meus amigos. Se o PTB não tem hoje tantos deputados, foi porque nós colocamos os viciados para fora. Os presidentes regionais construirão uma nova e grande bancada.

    A Graciela me pediu demissão, eu aceitei, pois após os áudios do grupo dela perdeu qualquer condição moral ou política para continuar à frente da presidência. A Graciela me desqualificou e me traiu. Quis apagar minhas lutas e o meu legado. Estou dizendo isso pelo o que ouvi do grupo secreto da Graciela.

    A Graciela foi pior de que a Cristiane para mim, que foi pior do que Brutus foi para Júlio César. Quando ela me visitava na prisão ela chorava, fazia minha Ana chorar, me fazia chorar, declarando amor, lealdade e compaixão. Como ao sair de lá ela podia fazer aquelas gravações no seu grupo secreto, de zombarias desconstrução? Como?

    Quem ela é na verdade? A Graci que chora pra mim ou a que ri de mim nas minhas costas no grupo secreto?

    Quanto a falar comigo, a Graciela sabe onde eu moro. Não sairei de casa, estou preso e incomunicável, somente podendo receber visitas de parentes próximos e de meus advogados como agora recebo. Decisão judicial. Peço a você que peça autorização ao Ministro para trazer a Graciela até aqui. Em caso de autorização, eu a receberei como só poderia ser, minha criatura querida.

    Como ser humano tem meu amor, mas perdeu minha confiança para presidir nosso PTB. Eu a edifiquei como uma grande líder para a vida. Ela quis me envolver com as cordas da sepultura. Escrevo esta carta que te entrego profundamente triste e abalado.

    Nossa força e vitória é Jesus!

    Roberto Jefferson, um preso político.”

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